Hoje há um verdadeiro sorriso em mim, que não consigo esconder de mim próprio. Não o revelo ao Mundo porque é meu. Não, não é mais um rasgar da alma num rasgar de lábios. É uma intimidade feliz em que me deixo estar, grato por ser. Estou em constantes guerras pensativas e hoje, como sempre, elas permanecem porque penso e porque sou, em consequência. Mas hoje as guerras corporizadas em estímulos cerebrais não têm a força dilacerante do passar apressado dos dias. Há paz neste espaço imóvel e inconstante onde me encontro. É uma paz activa, que se vai desenvolvendo ao ritmo construtivo dos apelos e respostas de mim a mim próprio. Há um grito de dor que ecoa ao longe e uma mão, talvez minha, que se estende a essa voz disforme que pertence à morte dos ontens e ao chamar mortífero dos amanhãs. Escuto esse grito. Oiço um pingar vaporizado. Liquefaço o medo para que corra sem bloqueios pelas minhas veias. Condenso a gratidão de estar vivo, de ser. Entrego-me às vontades do Mundo crendo que, não um dia, mas que em cada dia, farei de mim um instrumento de mudança e construção. É uma vontade divina que apreendo e minha torno, que se corporiza pelo meu agir.
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3 comentários:
E se outra coisa não restasse, sempre nos restará a gratidão de estarmos vivos e todos os dias tentarmos mudar e construir um ser melhor.
Excelente texto.
Os sorrisos da alma não provocam rugas... são bálsamo e cura, milagrosos para os defeitos dos dias.
Estar grato por essa capacidade de sentir serenidade, ajuda de facto a mudar o mundo.... nem que seja o nosso mundo quotidiano.
Gosto da tua escrita.
Caro Manuel,
Que bom, quando o pensar nos traz o aplacar da dor e um sorriso nos paira no espírito. Que bom é darmos por nós assim, resistindo à tentação das viagens em vai-vem entre o nosso cérebro e o nosso umbigo. Porque a escrita também se faz quando estamos felizes, viva este belo bocado de prosa que tanto gostei de ler.
Fique bem.
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