«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

medo: não me falhas

«E se eu falhar?», penso. A psicologia diz-me que este pensamento causa sofrimento por antecipação e em nada me ajuda na realização dos meus projectos. É, porém, uma questão legítima. A linha entre o realismo e o derrotismo é muito ténue.
Sinto-me sob uma enorme pressão. Não se trata do peso do ar, saturado de toxinas; não se trata do peso das pessoas que se empurram contra mim, imundas, nos transportes; não se trata do peso dos livros que me acompanham nos meus passeios diários, entre bibliotecas, aulas e salas de estudo; não se trata do peso do meu irmão de 11 anos, que já deixou de ser criança de colo, ou do de 16, que é maior que eu; não se trata do peso da mochila e de todo o material que levo para as actividades escutistas; não se trata do peso dos desabafos entre amigos; não se trata do peso da Bíblia, a que recorro, pelo menos, aos Domingos. São apenas lascas na minha cruz, que é encimada pela inscrição : «Faz o teu hoje, faz-te no teu hoje». O peso da escolha, esse, é constante.

1 comentário:

Anónimo disse...

revejo me nessas palavras...