«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Naturalmente ser

Isto de precisar de me perder, de me distanciar do tempo e do espaço, é não mais que um intenso desejo de me aniquilar perante a maravilha do universo, para me poder reencontrar, depois, pacífico, pleno da maravilha da criação e novamente sabedor do milagre da minha existência nela. Isto de correr atrás do mar, da montanha, do nascer e do pôr do sol, das estrelas e da lua, do calor do sol e do fresco da noite, do varrer do vento e do toque da chuva, é apenas o desejo de poder abraçar com os meus sentidos a beleza que há no mundo. Isto de querer sorrir, rir e chorar perante o pôr do sol é o magnetismo destes encantos com que me cruzo, os quais fazem fluir em mim todo o tipo de emoções, que me libertam dos meus tormentos pela harmonia da aceitação da sua maravilhosa simplicidade; é saber-me e sentir-me verdadeiramente vivo e , de novo, em paz; é sentir-me EU, o eu maravilha da minha existência, o eu milagre do ser, o eu em paz e em harmonia com o espaço e o tempo de que teve de tentar escapar para poder amar.

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