«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

(in)confidência

I,

in confidência digo que:

há uma linha que vai para lá do meu campo de visão e que temo cruzar. e temo-o porque do outro lado podem estar as mais luxuriantes e admiráveis pradarias, mas porque pode também estar o abismo para o qual me sinto sempre a caminhar. o pior é que, sendo um abismo, nem por isso deixa de exercer sobre mim um fascínio e uma atracção tão tentadora que não sei se as minhas pernas se manterão firmes na beira do precipício.

temo-me mais que a tudo o resto. há sempre um ser indomável que me habita e que tem uma propensão para a bipolaridade que pode degenerar em auto destruição. e esse risco é tão constante, tão grande, que o meu instinto me surge sempre como um pacote suspeito que há que, à cautela, destruir de forma controlada para que não leve tudo pelos ares.

daí o baque mudo que, sem ser visível, interjeciona o temor na primeira linha deste meu acto in confidente.

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