«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Que olhar é esse que timidamente lhe prende a atenção, que toque é esse que lhe custa largar e que lhe eriça o sentimento de adorada insegurança? Que temperamento é esse que o encanta, que riso é esse que na sua inconveniência cai certeiro descontado em encantamento? Que é isso que o intriga, essa incompatibilidade concertante, esse secreto volver ao gustosíssimo pomo que, semeado por Éris, é com a ajuda de Eros colhido e é com o encanto e sedução da espada saboreado?

Que ansioso desconforto da dúvida é este que o assola, que dúvida é esta que o atormenta? É em jeito de fusão, confundido que está, entre esperança, medo, desconfiança, embaraço e entusiasmo, que encara este estado seu. Na confusão do seu ser, procura fundir tudo para que possa concluir, mas resiste-lhe a massa heterogénea de sentimentos.

A pergunta que tanto faz parece-lhe uma resposta em si mesma, pela sua insistência, mas já não confia em si. Mais uma vez espera que a resposta lhe surja berrando para ser atendida. Mal sabe que entretanto pode perder doces suspiros, insuspeitos, na sua discrição.

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