És tu, descalça, que percorres o corredor de mansinho? És tu que te passeias, enquanto neste primeiro quase sono procuro esquecer o relampejar do dia? Serás tu que, nessa mansidão, procuras passar despercebida? É que não sei se te procure para te implorar que me deixes retomar a calma do meu sono, se te sussurre baixinho que te venhas aninhar aqui, longe do mundo, onde a escuridão, minha suprema companheira, me dá o abrigo do silêncio. E enquanto fecho os olhos para me perder na minha indecisa e inerte tábua de salvação, qual colchão forrado de medos que é este meu pouso, sinto-te caminhando de arco e flecha em mãos, qual divindade dos bosques, e não sei se me emboscas, se vens, ao acaso, dar conforto à tua presa. É sempre com receio que abro as janelas ao mundo e vejo que o teu irmão, no seu carro celeste, porta já a luz que vigia os teus passos. Mas é enquanto a presença da lua te encobre que és mais temerária e, neste corredor meu da presença disforme do desconserto, é quando mais confortas esta receosa vítima dos deuses.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
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