«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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terça-feira, 26 de julho de 2011

O contentamento

Mais uma vez aqui estou. Neste espaço que, como carapaça da qual não posso sair, se tornou já quase a minha casa. Aqui, rodeado dos confortos das secretárias, computadores e telefones, permaneço neste leve e agradável serão. Serão mais uns minutos apenas, vou esprerando. Ou desesperando. Na verdade sei bem que enganar-me assim não resolve. Nas verdade sei bem que tenho sempre medo de resolver as coisas, porque só a ameaça do desconhecido, da incerteza, é suficientemente assustadora para me impedir de encontrar outra solução. Estou feliz, aqui. Aqui onde respirar fica quase esquecido por ter de vir depois do correr do temporizador que dá razão à facturação. Sim, como é bom preocupar-me com o lucro..., de outros, que sejam. Quanto não lucro eu com isto? Tudo o que foi preocupação se torna apenas miragem distante, porque assim estou protegido de tudo o que na vida das pessoas as vai atormentando mais regularmente: o contacto interpessoal. Isso é uma procupação das pessoas: aqui a peça da engrenagem tem coisas bem mais importantes com que se preocupar e vai lendo, vai escrevendo, dizendo o que de melhor há, que é opinar e defender por dinheiro e não por razão.

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