«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Desengana-te, ó punhado de pó feito gente

Ele, que se quer ser livre em tudo. Ele, que ambiciona ser senhor de si mesmo e do seu destino. Ele, que quer esquecer-se do mundo e fechar-se na sua teia galáctica para poder escancarar a janela da sua visão. Ele, que brada aos céus que existe, que está aqui, e que é em plenitude naquilo que há de mais genuíno, que é ser Ele próprio. Ele... é uma fraude, porque trabalha ingloriamente até às quinhentas que nem um escravo, abdicando de quase tudo (das suas identidade e dignidade, até) por um punhado de nada, escutando Tachaikovsky, Dvorak, Grieg, Mahler e Chopin até mais não para se iludir na sua vã existência, comendo bolachas de água e sal para enganar a barriga e não desfalecer de cansaço.

Sem comentários: