«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nada como a tristeza dá mais razão de ser à obra de um artista. Ela é a musa inspiradora suprema e mais sublime. Não que não haja grande riqueza na alegria, na felicidade. Há-la, porventura, em maior escala, mas o gozo dos momentos alegres dá-nos mais ânimo e vontade de viver, de experienciar, de ser, em essência. No sofrimento não correm pernas, sorrisos ou empreitadas, mas corre a pena pela alma. Corre a pena quando não correm as lágrimas, as zangas, os desvarios ou os simples amuos. Mas como prefiro o correr da tinta, ou o correr de teclas, à dor extrema da angústia vivida na primeira pessoa, é num terceiro ser, o do escritor que me mim vive, que tudo corre e em que, por fim,. tudo repousa, para que nas minhas pernas restem forças para me erguer e continuar a caminhar, corajosamente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um pouco de arte, por favor, um pouco de arte

Um pouco de arte, por favor, um pouco de arte.

Eu no meu carro, enquanto a minha mente divaga

Quero fugir de mim, daqui, do tempo. Quero pensar, sentir e ser mais que um corpo preso no tempo, preso pela gravidade, gravitando em torno de mim, girando pelas ruas, metido no meio de todos, sozinho sem contar com nenhum(a) roteiro (ajuda, companhia)

Na solidão de uma noite escura e quase fria

Quero um guião, para dele escapar. Ir para além do que me é oferecido, mas ter um ponto de partida, uma referência: uma página, um acorde, um tom de verde perdido na palete, um minuto da bobine, uma coreografia que não esta modernice divina do vai-se vendo enquanto se segue, uma textura mais que o ar,

Que me bate no rosto e me fustiga o agora e me traz um cheiro a sonhos, entrando de manso pela janela aberta, seguindo a alta rotação, acompanhando o motor

Um flash,

Never back, but forward, as the road

Um sorriso, fingido meu, nas expressões de um elenco

De coisas pelas quais passo, mas às quais não me apego. Só sigo, pela estrada

"Da vida..." seria um bom título para uma crónica, não fosse A vida.

E eu aqui. E eu ali há pouco. Só sigo. Só guio.

Um pouco de guerra mais nesta batalha. É um batalhão de estados que me toma. Uma tempestade mental para me permitir a paz do reencontro comigo mesmo no cuidar das mazelas. Quero-o. Tenho-o porque o quero. Quero-o porque tenho esta mente voraz que não pára, não quer parar, quer-me consumir a mim mesmo, a MIM, até que as cinzas restantes mais não sejam que uma ténue mistura de mim nalgo que espero ser uma semente da minha essência, prontas para fertilizar a minha marca no Caos. Sim, é no caos que nasce a luz, é no caos que nasce o cosmos. É aí que nasço, aí de onde quero fugir, até aos primórdios da essência.

Passo as luzes, passo as casas. Não passo por elas. Passo-as. Ultrapasso-as, como se não mais fossem parte da paisagem que contemplando vou, mas da estrada.

É loucura.. É loucura?

Sou eu!