«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nada como a tristeza dá mais razão de ser à obra de um artista. Ela é a musa inspiradora suprema e mais sublime. Não que não haja grande riqueza na alegria, na felicidade. Há-la, porventura, em maior escala, mas o gozo dos momentos alegres dá-nos mais ânimo e vontade de viver, de experienciar, de ser, em essência. No sofrimento não correm pernas, sorrisos ou empreitadas, mas corre a pena pela alma. Corre a pena quando não correm as lágrimas, as zangas, os desvarios ou os simples amuos. Mas como prefiro o correr da tinta, ou o correr de teclas, à dor extrema da angústia vivida na primeira pessoa, é num terceiro ser, o do escritor que me mim vive, que tudo corre e em que, por fim,. tudo repousa, para que nas minhas pernas restem forças para me erguer e continuar a caminhar, corajosamente.

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