«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Punhado de areia

Num punhado de areia deixo a minha vida. Cada grão conta uma história. Cada um pertenceu a uma rocha que com o passar dos dias se desgastou, mas que deixou parte de si. A sua dureza foi agredida pela força do bater da água e do vento, pela experiências pessoais que para trás ficam. São finos, insignificantes como cada momento que se desvanece ao ir-se. É só um punhado numa vasta praia, como os meus curtos 20 anos numa imensidão de anos vividos por inúmeras pessoas diferentes. Tem uma textura algo áspera, algo sedosa, como a vida: dura, mas maravilhosa. Escapa-se pelos dedos e dissolve-se no areal, como eu, na multidão. Mas muitos ficam agarrados à pele, como muitas experiências ficam para sempre agarradas a mim. Marcam a diferença, como eu consigo fazer em tantas alturas. Não são só grãos de areia que agora atiro ao mar, para que os engula. Sou eu o que lanço à eternidade, o que entrego às forças do destino, porque não sou mais do que parte de algo maior. E isso não me enfraquece ou desvaloriza: dignifica-me.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Nos dias que correm a vida tem gosto a café, porque é a única maneira de percorrer tudo o que há para fazer nas curtas 168 horas que uma semana tem.