«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ei-los

Em passo apressado
Há um desesperado
Que se sente cansado.
Não, não é enfado,
Está martirizado, chagado.

No meio do correrio
Há uma mulher ao frio
Com ar pouco sadio.
Ao olhar, um arrepio,
Um protesto, que silencio.

Em grande pasmaceira
Há um pobre da asneira
Que, com grande bebedeira,
Sonha com o calor da lareira
Enquanto jaz no passeio, à beira.

No meio de um bar
Há um tipo dançar,
Que se sente a viajar,
Não porque vá mudar, melhorar,
Mas pelo que acabou de tomar, ou sninfar.

Em velocidade alucinante
Há um doido ao volante
Que guia, errante,
Frente ao destino, avante!,
Sem tempo, o viajante.

No meio do oratório
Há um sehor, de ar finório,
Que muito dá no oferetório,
Mas que quer, do Senhor, não falatório,
Antes respotas, em reportório.

Em escrita, como terapia,
Há um rapaz que, com energia,
Muito vai expondo, de forma algo fria,
Mas cuja mente, um pouco doentia,
Procura, loucamente, o calor da magia.

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