«o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.»

Vergílio Ferreira, Aparição

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sabendo que são teus os passos que ecoam na minha mente, tímidos, sem querer dar teu nome ao corpo que se move, mas não conseguindo esconder o som de orvalho sobre pétalas, espero que passem. Não passam. Espero que fiquem, então, comigo, os teus passos, porque eras tu quem ficaria. Não ficas. Espero que vão, porque o seu som abafa o dos meus pensamentos. Não vão. E ficas, meia tu, tomando-me, lentamente, enquanto tomo um olhar em volta e me vejo só. Não estás aqui, mas não pareces querer partir deste sítio onde ainda não quiseste chegar, que sou eu. Aninho-te, porque quero que me habites confortavelmente, mas guardo espaço para o resto de ti, que resiste em chegar.
(eu sei onde, lá onde és tudo quanto me ocupa, mas para quando?)